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segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Era Digital Banaliza Os Sentimentos

Por Stella Rios

A era digital torna superficiais as relações afetivas? Banaliza os sentimentos? Potencializa o circuito efêmero do “ficar”? Distancia as pessoas do “olho no olho” e do “cara a cara”, no filtro embaçado do Facebook e do Twitter? Favorece os vícios online, por exemplo, na zona obscura da pornografia?


As acusações contra os usos e abusos na web são muitas, mas o psicanalista Jorge Forbes tende a repetir quantos “nãos” forem necessários para responder às dúvidas regadas a ceticismo aí de cima.
Forbes é um otimista da modernidade. “O amor na era digital é responsável”, diz ele. “Se alguém está com alguém é porque quer livremente estar.” As relações afetivas não são mais intermediadas, como no passado, pela natureza, por algum deus ou pela razão iluminista. “O amor é o laço social por excelência desta nova era”, acredita.
Forbes participou da última edição dos Diálogos Capitais, promovida por esta revista na Livraria Saraiva do Shopping Morumbi. Com ele debateu o cronista e jornalista Xico Sá. Ressalvando que tudo o que sabe desse amor internético é o aprendizado “de tantos pés na bunda que levou”, Xico Sá preferiu ressaltar, no turbilhão emocional da rede, “o dado da paranoia”, o ciúme, a suspeita, a traição, todo mundo detetive de todo mundo, a ação em rede gerando “uma agressividade de dimensão sem fim numa velocidade que amplia essa paranoia ao infinito”.
Poucos amores hão de sobreviver, quem sabe, a tanta superexposição, a tamanho exibicionismo. Será que o Facebook é a inevitável antecâmera do adultério e da separação? A Xico Sá incomoda, isso sim, “a angústia de gerar felicidade” aos olhos dos outros, a ansiedade de criar uma boa notícia todos os dias, mesmo que seja para alimentar, nas redes sociais, no Twitter, no Instagram, a ficção de sua própria alegria. De seu divã, Forbes observa, contudo, que há uma saudável dissociação entre o que uma pessoa tende a falar e a mostrar de si mesma, na internet, e a essência dela – o que ela verdadeiramente é.
E-mails de amor são também ridículos?
Todas as cartas de amor serão ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. O que Fernando Pessoa/Álvaro de Campos disse a respeito de súplicas derramadas em folhas vitorianas de papel perfumado continua valendo hoje, ainda que em novo figurino. “Escrevo imensas cartas de amor por e-mail”, confessa o cronista Xico Sá. “E, independente de eles darem certo ou não, gosto de guardá-los.” São como “panfletos líricos”, define. Admite que deve ser um “traço de nostalgia”, mas faz ostensiva campanha – na web – para que a web não persista num de seus defeitos: o de ser tão lacônica. “O discurso do amor é longo, lento, redundante”, diz o cronista. Portanto, não é escrevendo #amor no seu tweet que vc vai provar q a/o ama.

Na internet, somos anjos e demônios
“A internet é um meio de perdermos o medo juntos”, diz o sociólogo catalão Manuel Castells, estudioso dos hábitos e costumes de rede. Vale para a vida civil assim como para a vida afetiva. Nem em uma nem na outra o medo é bom parceiro. Castells, que se alterna entre Berkeley, o MIT e a Universidade Aberta da Catalunha, esteve no Brasil como convidado do Fronteiras do Pensamento. Está para lançar o livro Redes de Indignação e Esperança.

A ambiguidade do título reflete um dos papéis que Castells atribui à internet: a de aglutinar “demandas emocionais” até então desarticuladas e muitas vezes incoerentes. A era da “autocomunicação de massa”, que atropela a mídia convencional e desafia a representação política, tende a se converter em fator coletivo de mobilização, por um lado, mas acaba por radicalizar o culto umbilical de sua mera individualidade. “Somos anjos e demônios”, adverte Castells. “Viver na internet tem um perigo: nós mesmos.”
Tags:internet e o cotidiano

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