Por Stella Rios
Uma pesquisa coordenada
pela Fundação Oswaldo Cruz vai avaliar uma forma de implementar no país o uso
do medicamento antirretroviral Truvada como forma de evitar a transmissão do
HIV em populações mais vulneráveis.
Serão recrutados, a
partir do fim de agosto, 400 homens que fazem sexo com homens: 200 no Rio e 200
em São Paulo. O estudo será feito em parceria com a Faculdade de Medicina da
USP e o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo.
De acordo com a
infectologista Brenda Hoagland, que coordena o estudo na Fiocruz, o medicamento
será fornecido aos voluntários por um ano.
A eficácia e a
segurança do Truvada para evitar a infecção por HIV já foi demonstrada. Um
estudo multicêntrico cujos resultados foram publicados em 2010 e no qual houve
participação de voluntários do Brasil, mostrou que a terapia reduziu o risco de
infecção em até 94,9%. A pesquisa incluiu 2.499 homens em 11 centros de estudo.
O objetivo agora, diz
Hoagland, é avaliar, numa situação de vida real, como seria a melhor forma de
implementar o uso da droga como profilaxia. "Já sabemos que o remédio é
eficaz. Queremos demonstrar na realidade do Brasil como oferecer essa
profilaxia."
É preciso ver, por
exemplo, se os pacientes vão usar o medicamento todos os dias conforme o
indicado. Uma falha na administração do remédio pode deixá-los mais vulneráveis
à infecção, por exemplo. O melhor local para distribuição dos comprimidos
também precisa ser avaliado, segundo a infectologista.
Um risco do uso
profilático do antirretroviral é o caso de um paciente se tornar soropositivo
durante o uso do remédio e descobrir só mais tarde. Quando ele der início ao
tratamento antirretroviral, poderá já ter começado a desenvolver resistência ao
tratamento.
No ano passado, a FDA
(agência reguladora de medicamentos nos EUA) aprovou a indicação do Truvada
como terapia profilática contra o HIV.
No Brasil, no entanto,
o remédio ainda só tem aprovação como terapia para quem já está infectado, o que
precisaria mudar para que ele fosse adotado como terapia profilática. O
antirretroviral, que combina as substâncias tenofovir e a emtricitabina, também
não é distribuído aos soropositivos na rede pública no Brasil.
A pesquisadora da
Fiocruz diz que as conclusões do estudo que começa agora, esperadas para 2016,
devem ajudar o governo a embasar sua decisão sobre a adoção dessa terapia.
Para o infectologista
Caio Rosenthal, do Instituto Emílio Ribas, a terapia preventiva é um dos
caminhos para que a transmissão do HIV acabe. "Se todos com HIV estiverem
em tratamento, com carga viral indetectável, e quem estiver em risco se
proteger, não vai haver hospedeiro para o vírus."
A terapia profilática
não substitui o uso da camisinha.
Fonte: Folha de São Paulo
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