Por Luciano Ribeiro
Na retomada do julgamento do “mensalão”, agora em fase de
recursos, o mais novo ministro do STF criticou o sistema brasileiro que,
segundo ele, transforma a política em negócio: “o julgamento da ação penal 470,
mais do que a condenação de pessoas, significou a condenação de um sistema
político”. Por Najla Passos, de Brasília
O mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís
Roberto Barroso, defendeu a urgência da reforma política no Brasil, durante a
sua estreia no julgamento do mensalão, nesta quarta (14), em Brasília (DF).
“Sem reforma política, tudo continuará como sempre foi. A distinção será apenas
entre os que foram pegos e os que não foram”, afirmou, ao tecer suas
considerações iniciais sobre o julgamento que entra, agora, na fase de
recursos, os chamados embargos.
Segundo ele, a sociedade brasileira está exausta da forma
como se faz política no país. O ministro lembrou que uma campanha barata para
deputado federal custa, em média R$ 400 milhões, enquanto o salário de um
político não chega a R$ 1 milhão durante todo o mandato. “Com esses números,
não há como a política viver sob o signo do interesse público, ela se torna um
negócio. (...) O modelo político brasileiro produz uma ampla e quase inexorável
criminalização da política”, enfatizou.
Dentre as principais características negativas do sistema
brasileiro, ressaltou o papel central do dinheiro, a irrelevância programática
dos partidos que funcionam como rótulos para candidaturas e o sistema eleitoral
e partidário que dificulta a formação de maioria estáveis. “O julgamento da
ação penal 470, mais do que a condenação de pessoas, significou a condenação de
um sistema político”, insistiu.
Barroso deixou claro também que não importa que a reforma
política seja feita pelo Congresso ou diretamente pelo povo, por meio de
plebiscito, conforme proposto pela presidenta Dilma Rousseff. Para ele, o
importante é que ela ajude a coibir a corrupção, um mal maior que independe de
coloração partidária. “Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Não há
corrupção melhor ou pior, dos nossos ou dos deles. Não há corrupção do bem. A
corrupção é um mal em si e não deve ser politizada”, opinou.
Barroso também refutou o chamado mensalão constituiu um
evento isolado na vida política nacional. Como em uma linha do tempo
imaginária, lembrou de escândalos como o dos “anões do orçamento” (1993), dos
precatórios (1997), da construção do TRT-SF (1999) e Banestado (2003). Para
ele, é no mínimo questionável que o mensalão seja o maior escândalo político da
história do país, como insiste a mídia convencional. "Talvez se possa
afirmar é que foi o mais investigado de todos, seja pelo Ministério Público,
pela Política Federal ou pela imprensa”, acrescentou.
Carta Maior
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