Autor: Luiz Fernando Janot
Adaptado por Luciano Ribeiro
Nenhuma cidade está imune à violência. Se em épocas remotas costumava-se murar as cidades para protegê-las dos inimigos externos, nos tempos atuais as ameaças se encontram no interior da própria cidade. Garantir a segurança nos espaços públicos é um requisito indispensável para tornar o convívio na cidade mais afável e solidário. Se os contrastes sociais e econômicos não explicam a origem da violência urbana, não há dúvida de que eles, em si mesmos, expressam uma forma de violência. No Brasil, a cidadania não tem sido compartilhada igualitariamente.
Modelos excludentes de desenvolvimento urbano acentuam esses contrastes, criam guetos de pobreza e abrem espaços para abrigar organizações criminosas. É sabido que jovens bandidos não aceitam viver na pobreza e que aspiram a desfrutar, ao seu modo, dos objetos de consumo divulgados em novelas e em sedutoras campanhas publicitárias. O acesso às drogas e às armas facilitou a tarefa de obter esses produtos pela via da criminalidade.
A violência nas grandes cidades brasileiras vem induzindo os habitantes a protegerem suas residências com muros eletrificados e os edifícios com grades, câmeras e seguranças particulares. Afinado com esse comportamento, um número significativo de pessoas tem optado por morar em grandes condomínios residenciais fechados e repletos de atrativos. Por mais atraentes que sejam esses espaços privativos, eles constituem, do ponto de vista da cidade, verdadeiros enclaves urbanos delimitados por barreiras reais e simbólicas, visíveis e invisíveis.
A decadência do ambiente urbano tende a estabelecer um círculo vicioso em que prevalece a ordem da desordem e, com ela, diversas formas de violência. Para recuperar a urbanidade perdida, o caminho mais curto é requalificar os espaços urbanos e devolvê-los aos cidadãos em condições otimizadas de uso. Nesse processo, deve ser incentivada a ocupação diversificada dos imóveis e a sua aproximação com o espaço público, de modo a atrair mais pessoas para as ruas e torná-las, consequentemente, mais dinâmicas e seguras.
Da mesma forma, é inadmissível aceitar passivamente a presença de camelôs obstruindo as calçadas, ciclistas disputando espaço com os pedestres, motociclistas buzinando e ziguezagueando pelas ruas, flanelinhas extorquindo dinheiro de motoristas, veículos estacionados sobre as calçadas, ônibus e vans circulando tresloucadamente, vândalos destruindo e pichando o patrimônio, porcalhões sujando a cidade.
Enquanto cada cidadão não se conscientizar do seu papel diante dessas e de outras práticas ilegais, reagindo e cobrando atitudes do poder público, não há dúvida de que a violência praticada por uma minoria continuará interferindo no bem-estar da maioria da população. Em tempos de passeatas e reivindicações, não há como ignorar que o direito à cidadania é um bem inalienável dos regimes democráticos.
oglobo
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