Parece que foi ontem que
as pessoas apedrejavam (simbolicamente, pelo menos no ocidente) os
homossexuais. Parece que foi ontem que pastores de igrejas evangélicas
criticavam qualquer tipo de demonstração de amor que não fosse de um homem por
uma mulher ou vice versa. Parece que foi ontem (e foi mesmo) que a sociedade
estava completamente avessa a todo e qualquer tipo de incentivo ao
homossexualismo (não, isso não é tendência, isso é normal, tão normal quanto
você beijar seu namorado ou sua namorada na porta do cinema).
Há quem grite com gliter
luminoso aos quatro ventos que o mundo é gay! E há ainda quem relute a esta
afirmação de forma indignada e cheia de preconceitos. Vou lhes dizer uma coisa
jovens e não-jovens leitores: O mundo não é gay e muito menos heterossexual. O
mundo é diversificado tanto em teoria quanto em prática. Aprendemos na
escolinha da tia Cotinha que desde o tempo em que César estava no poder existia
diversidade nas formas de amor pelo mundo. Homens já amavam homens e mulheres
já amavam mulheres. Inclusive, lá pelas bandas de Roma isso sempre foi bem
comum, o que pode ser lido e visto em diversos livros, seriados e filmes sobre
o tema.
Por isso não me admira que
um beijo gay em uma novela seja tão polêmico quanto foi o do personagem Felix e
do tal Carneirinho em Amor a Vida (novela global). A sociedade se apegou ao
estilo engraçadinho do Felix, as suas frases e tiradas, ao seu jeito irônico
com todo mundo, inclusive com o próprio Carneirinho. A vantagem disso? O gay
não é visto mais como um bicho de sete cabeças do qual precisamos esconder as
criancinhas quando cruzamos por eles nas ruas. A desvantagem disso? Nem todo
gay é um folclore ambulante, vai por mim. Muitos convivem com vocês todos os
dias e acredite, nunca deram uma pinta, uma requebrada ou uma virada de olho.
Não sou contra o gay
caricata e muito menos sou contra ao machão caricata também. Mas precisamos ter
consciência que ambos os estereótipos fazem parte de um mundo cheio de gente
diferente umas das outras e que entre eles, junto com eles e ao lado deles,
estão todos os ‘normais’ que vivem suas vidas normais, com casamentos normais,
com esposas, maridos e filhos normais, tudo normal – ou, como diria Machado de
Assis: os “ditos normais”.
Machado de Assis, em 1882,
publicou um conto intitulado “O alienista”. A história se passa em Itaguaí,
interior do Rio de Janeiro, uma cidade pequena e cheia de pessoas bem
caricatas. A história é sobre um médico psiquiatra chamado Simão Bacamarte
cheio de fama e projetos na Espanha e em Portugal que se muda para Itaguaí. Dr.
Bacamarte inicia um estudo sobre a loucura humada e seus graus,
classificando-os, como todo bom estudioso. Ele chega então em Itaguaí e funda a
Casa Verde, um hospício em que ele instala várias cobaias humanas para suas
pesquisas.
O problema é que Dr.
Bacamarte começa a internar todos da cidade que ele considera com algum nível
de loucura, o vaidoso, o bajulador, a supersticiosa, a indecisa, todo mundo
mesmo. O que ele não percebe é que ele estava julgando cada uma daquelas
pessoas devido a suas escolhas de vida, seus trejeitos e manias. O leitor,
claro, levado pela obra e pela forma fantástica de dissertar sobre alguma coisa
de Machado, é levado a odiar e amar o Dr. Bacamarte diversas vezes. Mas a
conclusão que chegamos ao final, quando o próprio psiquiatra se considera o
único louco, ou talvez o único normal, é que o padrão de normalidade foi
inventado por alguém que se considerava normal ou considerava determinado tipo
de gente normal. Mas será que este padrão inventado é realmente o que devemos
seguir para sempre?
Ou será que, assim como as
titias que mudaram de opinião com relação aos gays por causa da novela,
normalidade é um conceito que pode sim mudar e se adaptar de acordo com o
passar dos tempos? Você já parou para refletir sobre isso? Portanto, não
acredite que o mundo seja gay ou heterossexual apenas porque senão você vai
acabar maluco sozinho junto com o Doutor Bacamarte na Casa Verde. Acredite e
viva a diversidade, não encare a diferença como uma coisa escandalosa, porque
ela é tão normal quanto você.(coxinhanerd)
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