Por Stella Rios
As políticas educacionais mais recentes conseguiram diminuir a
quantidade de analfabetos no Brasil, mas não evitaram que mais jovens saíssem
da escola sem saber ler ou escrever.
Ao longo dos
últimos anos, quando o tema se tornou compromisso dos governantes (em acordos
internacionais e campanhas), os esforços de universalização do ensino não
chegaram aos adultos como deveriam e ainda “produzem” analfabetos. Muitos
escolarizados, inclusive.
Além disso, as
políticas educacionais ainda não venceram as desigualdades histórias do País.
Os dados mais recentes do analfabetismo estão na Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílios (Pnad) 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Eles mostram que
7,2 milhões de brasileiros que deveriam saber ler e escrever (possuem mais de
10 anos de idade) vivem nos estados da região Nordeste.
Ana Lúcia não
acredita que uma solução única seja possível para resolver o nó que se tornou a
alfabetização de adultos no Brasil. Ela lembra que a geração mais velha, que
não teve acesso à escola na infância, ou os que moravam ou moram em regiões
rurais e também se mantiveram afastados da escola, são alvos difíceis de atrair
para o estudo.
“Há uma
dificuldade grande de motivar aqueles que se mantiveram distantes do universo
da leitura e da escrita agora”, diz.
“Nesses casos, é
preciso lidar com o analfabetismo de forma muito individualizada. Não dá para
termos uma política única, achando que ela resolverá e funcionará igual pra
todo mundo”, critica.
No ano 2000, o
Brasil assinou a Declaração de Dacar "Educação para Todos", elaborada
pela Cúpula Mundial da Educação. Os países se comprometeram a reduzir o
analfabetismo em pelo menos 50% até 2015. A meta brasileira era chegar a um
índice de 6,7%.
O Brasil não
conseguirá alcançar a meta, segundo a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A organização é responsável por
monitorar os avanços dos países signatários da declaração e divulgou relatório
atestando essas dificuldades no fim de janeiro. Hoje, a taxa de analfabetismo
brasileira, entre a população com mais de 15 anos, é de 8,7%. Em 2001, o índice
era de 12,4%.
Onde
eles estão
Historicamente,
os resultados e as estatísticas educacionais – especialmente as de exclusão –
são bastante diferentes entre os estados e as regiões brasileiras.
O Nordeste
concentra grande parte dos brasileiros que não sabem ler ou escrever e os
números do analfabetismo nos estados da região são muito discrepantes em
relação ao de estados do Sul e Sudeste, por exemplo.
A taxa de
analfabetismo mais alta do País está em Alagoas, 19,66%. O Maranhão aparece na
sequência, com índice de 18,76% da população com mais de 10 anos analfabeta.
A menor taxa,
por outro lado, é a de Santa Catarina: 2,93%. Em seguida, aparecem o Distrito
Federal (3,15%), São Paulo (3,51%) e Rio de Janeiro (3,52%).
As discrepâncias
em relação às gerações, no entanto, são chocantes. No Maranhão, mais da metade
(55,7%) da população com mais de 60 anos é analfabeta.
Em Alagoas,
também (52,24%). Em muitos outros estados a porcentagem está acima dos 40%:
Piauí (48,72%), Sergipe (46,19%), Tocantins (46,05%), Bahia (42,86%), Paraíba
(42,34%), Pernambuco (40,78%) e Ceará (40,55%).
Na outra ponta,
os menores índices de analfabetismo entre essa população estão no Rio de
Janeiro (11,12%), São Paulo (12,66%), Paraná (17,77%), Santa Catarina (11,6%),
Rio Grande do Sul (12,12%) e Distrito Federal (14,02%).
A média
brasileira é de 24,36% de analfabetos entre as pessoas dessa faixa etária.
Entre os brasileiros com idade entre 50 e 59 anos, o índice é de 11,78%; de
8,18% entre 40 e 49 anos; de 1,79% entre 10 e 14 anos e 0,96% entre 15 e 17
anos.
Alagoas e
Maranhão também possuem altos índices de analfabetos entre outras faixas
etárias. Alagoas lidera as piores estatísticas do analfabetismo entre as faixas
etárias de 18 e 19 anos (5,93%, sendo que a média nacional é de 1,48%), de 25 a
29 anos (9,85%, diante da média nacional de 2,76%), de 30 a 39 anos (20%) e de
40 a 49 anos (26,82%).
A pior taxa
entre os jovens de 20 a 24 anos é do Maranhão (4,77%), que também lidera a de
50 a 59 anos (34,7%).
A maioria dos
analfabetos brasileiros vive na área rural. A taxa de analfabetismo nesses
locais chega a 19%. Os homens têm situação educacional ainda pior: 21% de
analfabetos. Entre as mulheres, o índice é de 16,9%. Nas cidades, há mais
mulheres analfabetas do que homens: 6,2% contra 5,9%.
Novos analfabetos
Ana Lúcia Lima
coordena, há 12 anos, uma pesquisa que monitora as habilidades de leitura,
escrita e matemática de brasileiros com mais de 15 anos.
O Indicador de
Alfabetismo Funcional divide os participantes em quatro grupos: analfabetos,
alfabetizados em nível rudimentar, em nível básico e em nível pleno. Os dois
primeiros compreendem o analfabetismo funcional.
O último
levantamento, de 2012, mostrou que 47% das pessoas ainda estão no nível básico
de alfabetização. Isso significa que elas leem e compreendem textos de média
extensão, leem números na casa dos milhões e resolvem problemas simples.
Outros 27% ainda
se encontram no nível rudimentar ou são analfabetos, conseguem fazer pequenas
tarefas, como anotar um telefone, sabem conferir troco e identificar textos
curtos. “Precisamos avançar muito”, diz
Tribuna da Bahia
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