Por Stella Rios
Um dos maiores especialistas em mariposas do mundo é um pesquisador brasileiro, nascido em Santa Catarina. Apaixonado por esses insetos e pela natureza, depois da aposentadoria, vendeu tudo o que tinha pra salvar um pedacinho de Floresta Atlântica.
O entomologista Víctor Becker e sua esposa, Clemira vivem na Serra Bonita, no município de Camacan, no sul da Bahia. A região é produtora de cacau e ainda conserva um bom pedaço de Floresta Atlântica.
Agrônomo de formação, por mais de três décadas ele trabalhou como pesquisador da Embrapafazendo a identificação e a classificação de pragas e insetos, mas foi ainda na faculdade que ele se encantou pelos insetos.
Durante o curso se aproximou do professor de entomologia, um especialista em lepidópteros, a ordem dos insetos a qual pertencem borboletas e mariposas. “Quando eu terminei o curso eu já tinha decidido que eu queria trabalhar na área de pesquisa e com insetos”, afirma Becker.
Ao longo da vida, o pesquisador acabou formando um das maiores coleções de mariposas do mundo. Em 48 anos de trabalho Becker conseguiu reunir mais de 300 mil mariposas de pelo menos 30 mil espécies diferentes. Todas as mariposas da coleção foram coletadas na América Latina, do México ao Brasil.
A sala que a briga a coleção tem iluminação e temperatura controladas para preservar a integridade dos insetos. Hoje a coleção de Becker é referência para pesquisadores e estudantes do mundo todo. “Sempre tem especialista vindo aqui para poder examinar o material e eu também devo ter uns 20 a 30 mil exemplares emprestados”, calcula.
Becker ressalta que borboletas e mariposas são parentes, mas possuem diferenças. “As borboletas são diurnas, pousam com as asas juntas, enquanto as mariposas são noturnas e pousam com as asas abertas”.
Toda mariposa quando jovem é uma larva ou lagarta. Nessa fase algumas são consideradas pragas, porque se alimentam de folhas frutas e galhos de plantas cultivadas comercialmente.
No entanto, quando adultas, Becker lembra da importância das espécies para as plantas.“Quase todas as mariposas são benéficas porque como se alimentam de néctar, têm que visitar as flores, e ao fazer isso elas polinizam. Então, a maioria das plantas se não tivessem as borboletas e as mariposas, elas não conseguiriam reproduzir”, explica.
Na coleção de Becker já existem mais de cinco mil espécies diferentes nativas da Serra Bonita. “Estimo que deve ter entre 12 e 15 mil espécies depois que se fizer um levantamento bem feito”, comenta. Essa riqueza biológica foi um dos motivos que fizeram Becker comprar a fazenda na Serra.
“Fazendo o trabalho de campo, me questionei sobre a vantagem de ter animais mortos em museus, se não for feito nada para protegê-los na natureza”, conta. Para preservar o ambiente natural das mariposas e de muitas outras espécies de animais e plantas, Becker vendeu tudo o que tinha para comprar dois mil hectares de terra e transformar a área em uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN).
Como RPPN a área não pode ser desmatada e só pode ser usada em atividades de pesquisa e ecoturismo. Alguns pesquisadores vêm trabalhando no inventário das espécies da reserva. Já foram catalogadas mais de 1.200 espécies diferentes de plantas, 40 ainda não eram conhecidas pela ciência.
O levantamento já descobriu 430 espécies de aves, 70 mamíferos, 80 espécies de anfíbios e 30 espécies de répteis. Na mata também há muitos macacos. Um deles foi doado para a fazenda de Becker. O macaco, chamado de Pelé, faz parte de uma espécie de bugio, ameaçada de extinção. “Ele é raríssimo, da espécie Alouatta Guariba. Nós estamos buscando uma fêmea para conseguir que ele se reproduza”, declara.
Depois da gravação da reportagem, o Ibama conseguiu uma fêmea de bugio para começar o programa de reprodução lá na Serra Bonita.
G1
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