Por Luciano Ribeiro
Só vale responder que sim
se você costuma dar ouvidos às alterações de sonoridade. Elas podem denunciar o
envelhecimento das cordas vocais e problemas de saúde
Os sons vibram diferente
em gente madura, já notou? É natural. A voz, assim como tudo no corpo,
envelhece. É por isso que ela sai do tom fica menos firme. No caso dos homens,
ainda por cima, torna-se mais fina e, no das mulheres, mais grossa. O
tratamento antienvelhecimento consiste em malhar as cordas vocais. Isso mesmo.
Afinal, elas são formadas por fibras musculares, mas a sessão de exercícios
deve ser feita sob orientação de um fonoaudiólogo.
Maus hábitos também
contribuem. Talvez você fique sem fala de espanto, mas gravata apertada, por
exemplo, prejudica a voz. Pelo menos por proximidade, isso faz algum sentido.
Mas o que me diz de um cinto muito justo? Esse acessório, assim como o nó que
comprime o pescoço e, conseqüentemente, a garganta, atrapalha a passagem do ar,
o que é fundamental para a fala, explica a fonoaudióloga Kennia Iumatti, do Instituto
Cecaf, entidade paulistana que tem como especialidade a comunicação oral.
E pensar que até a TPM pode afetar os sons que
saem do aparelho fonador, formado por pulmões, brônquios e traquéia. Isso,
vamos logo esclarecendo, se a mulher falar demais. O inchaço, típico dessa
fase, afeta as cordas na garganta, avisa a fonoaudióloga Márcia Toledo, que
também trabalha no Instituto Cecaf.
Tudo isso mostra o quão
vulneráveis são as pregas vocais (outro nome para as cordas) diante de fatores
externos e problemas orgânicos capazes de alterar o timbre alterações que,
muitas vezes, soam mal. O uso inadequado da voz, instrumento de trabalho de
cerca de 30% da população do planeta, tem culpa no cartório, sem dúvida. Mas
todos não só os que tiram dela o seu sustento, caso de professores, operadores
de telemarketing, locutores e tantos outros precisam ficar atentos nas
modulações, que, às vezes, indicam alguma encrenca de refluxo gastroesofágico a
câncer.
Em geral a rouquidão
resulta de um pólipo, que é um inchaço nas cordas vocais, ou um calo, que nada
mais é do que um nódulo provocado pelo atrito entre elas, exemplifica o
otorrinolaringologista Eduardo Lutaif Dolci, da Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo. O certo é ficar de ouvidos bem ligados para diferenciar uma aspereza
vocal passageira, provocada por uma gripe ou algo assim, daquela que denuncia
um problema mais grave. Se uma modificação do tom durar mais do que 20 dias,
procure um médico, avisa Dolci. Vale mesma recomendação para as pessoas que
vira e mexe ficam roucas.
Às vezes a rouquidão é tão
forte que a voz vira um fiapo, perdendo a força até desaparecer. O risco de
ficar afônico aumenta quando se é obrigado a ingerir certos medicamentos. Os
ansiolíticos, por exemplo, interferem na circulação sangüínea e chegam mesmo a
alterar o controle dos músculos envolvidos na fala, afirma Márcia Toledo. Já os
diuréticos ressecam as cordas vocais, enquanto o ácido acetilsalicílico dilata
os vasos e pode até provocar o rompimento de um deles se a pessoa falar demais.
O que fazer?
Bem, se não for possível
evitar essas drogas, capriche na hidratação. Quem usa muito a voz ou trabalha
em ambientes com ar condicionado, que retira boa parte da umidade do ar, também
deve beber muita água ao longo do dia, indica a fonoaudióloga Mara Behlau,
diretora do Centro de Estudos da Voz, em São Paulo. Se apesar de todos os
cuidados a voz teimar em falhar, não é uma boa idéia apelar para tratamentos
paliativos, como pastilhas para a garganta e sprays. Diferentemente do que se
pensa, esses recursos não resolvem o problema.
Ao contrário, podem até
piorá-lo. Não à toa. As cordas vocais ficam anestesiadas, a pessoa se sente
mais confortável e acaba falando além da conta. A primeira medida para qualquer
alteração de voz é simples: repouso. Dá até para traçar um paralelo entre a voz
judiada e um atleta que torce o tornozelo e, em vez de imobilizá-lo, prefere
usar um medicamento anestésico para voltar ao jogo, compara Eduardo Lutaif
Dolci. A lesão ficará ainda mais grave. Portanto, prefira fazer alguns minutos
de silêncio.
Revista Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo(s) seu(s) comentário(s)