Surfando Com a Notícia
O mundo esta percebendo e todos os apicultores vêm reparando há tempos: as abelhas estão desaparecendo.
O mundo esta percebendo e todos os apicultores vêm reparando há tempos: as abelhas estão desaparecendo.
Não entendo do assunto, não sou especialista, mas basta pesquisar um pouco para descobrir a importância desses insetos para a humanidade. Para quem gosta de dados numéricos, é bom saber que as abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 70% das plantas que fornecem alimentos no mundo todo. E isso é pouco se tomarmos ao pé da letra a frase dita pelo físico alemão Albert Einstein (1879 – 1955) e replicada pelo meu amigo no e-mail: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana.”
A situação está tão preocupante que os apicultores de todo o mundo acabam de lançar uma campanha internacional – “Bee or Not To Be” , com o objetivo de combater as causas do desaparecimento e proteger as abelhas. Aqui no Brasil, a Apacame, associação de apicultores paulistas, entrou na campanha. Segundo sua revista on-line foi em Brotas, interior de São Paulo, em 2008, que foi detectado o primeiro caso de desaparecimento das abelhas. Na ocasião, um apicultor perdeu mais de 200 colônias de abelhas africanizadas em uma cultura de laranja depois que ela foi pulverizada com o pesticida Thiomethoxam.
Mundialmente, no entanto, o fenômeno não é novo: desde 1903 que os Estados Unidos colecionam relatos sobre desaparecimento de abelhas, mas em 2006 foi o ápice: apicultores registraram perdas de 30 a 90% de suas colmeias no inverno.
Nem é preciso dizer os problemas que isso pode causar à vida humana, até no nosso dia a dia. Recentemente, a televisão britânica BBC entrou no assunto e convocou um repórter amante da apicultura para descobrir o que vem causando o fenômeno. O filme ficou bem explicativo. Mas não conseguiu achar uma única resposta para a pergunta.
Um dos motivos pode ser um estranho vírus, que ataca e mata as abelhas, conforme demonstram os pesquisadores britânicos. Tem ainda o aquecimento global, que pode estar causando mais essa destruição. Outra razão, no entanto, como não podia deixar de ser, é o uso contínuo e intensivo de produtos químicos nas lavouras. É impressionante: os pesquisadores instalaram uma espécie de antena numa abelha que fez contato com o agrotóxico e em outra, que não fez. Esses insetos têm o hábito de retornar sempre para a colmeia, só que a abelha que havia sido contaminada não conseguiu voltar, pareceu desorientada, num voo esquisito, como se estivesse embriagada.
O desaparecimento das abelhas é um fenômeno que vem sendo observado em diversos países. Em algumas regiões da Europa foi registrado o sumiço de até 80% das abelhas. Em agosto deste ano, a reportagem de capa da revista “Time” alertava para o fato de corrermos o risco de viver num mundo sem abelhas. O evento recebe vários nomes, como Colapso do Outono, Síndrome do Desaparecimento, Doença do Desaparecimento ou Colapso da Colônia (Collony Colapse Disorder – CCD).
Numa reunião na Argentina em 2011, os apicultores do mundo todo ficaram sabendo que os inseticidas de um determinado tipo (neonicotinoides) podem ser apontados como os prováveis grandes vilões que estão causando o sumiço das abelhas. E em abril deste ano, na Europa o uso desse tipo de inseticida foi proibido. No resto do mundo, no entanto, ele é ainda utilizado.
Nesse ponto eu me lembro da trajetória de Rachel Carson, bióloga considerada a precursora na defesa pelo meio ambiente, que escreveu o belíssimo livro “Primavera Silenciosa” (Editora Gaia), publicado em 1962. Esse lento processo de conscientização sobre o uso de pesticidas químicos, de forma que eles não se tornem um veneno para bichos e homens, foi uma bandeira levantada pela bióloga. Segundo Linda Lear, biógrafa de Carson, a tese de que a humanidade está se submetendo ao lento envenenamento – é bom lembrar que o Brasil hoje é o país que mais usa agrotóxicos na América Latina – pode parecer trivial agora, mas em 1962, “Primavera silenciosa” concentrava “o cerne da revolução social”.
“O livro de Carson desafiou deliberadamente a sabedoria de um governo que permitia que substâncias tóxicas fossem lançadas no meio ambiente antes de saber as consequências de seu uso a longo prazo”, diz Lear no prefácio do livro. Carson questionava a arrogância do poder, já que o governo dos Estados Unidos permitia o uso indiscriminado do pesticida DDT, contra o qual ela bateu fortemente, e se perguntava: “Será que alguém acredita que é possível lançar tal bombardeio de venenos na superfície da Terra sem torná-la imprópria para toda a vida? Eles não deviam ser chamados de inseticidas, e sim de biocidas”.
Carson morreu prematuramente, em 1964, aos 56 anos. Num tempo em que a Guerra Fria estava no auge e em que a ciência era considerada Deus nos Estados Unidos. “E um Deus masculino”, lembra Lear. Mas a bióloga conseguiu fazer tanto barulho com sua criteriosa pesquisa, que acabou resultando na proibição da produção doméstica do DDT e na criação de um movimento popular exigindo a proteção do meio ambiente por meio de regras estaduais e federais. O livro de Carson, lembra Lear, “deu início a uma transformação na relação entre os seres humanos e o mundo natural e incitou o despertar da consciência pública ambiental”.
O foco de Carson era a humanidade. Ela afirmava que o corpo humano é permeável, portanto vulnerável a substâncias tóxicas no meio ambiente. Num dos pontos mais polêmicos de seu livro, ela faz a relação entre o uso indiscriminado de pesticidas e o aparecimento de cânceres. Mas, hoje, além de sabermos disso tudo, estamos observando também a consequência da contaminação de substâncias que deveriam servir para livrar-nos de males maiores (como pragas e, consequentemente, falta de alimento) num dos insetos mais importantes para a vida do homem na Terra.
Sim, muita gente vai dizer que, por outro lado, há tecnologias suficientes para superar o problema. E deve haver mesmo, já em alguma prancheta, o desenho de uma máquina capaz de fazer o trabalho das abelhas. Se é que já não existe (se alguém souber, vale contar).
No entanto, pensem comigo: uma máquina dessas custa dinheiro. Só países ricos ou produtores agrícolas endinheirados terão condições de ter. Os pobres vão continuar precisando do método natural de polinização que, pelo que se vê, parece que está com os dias contados. Ainda dá tempo de consertar isso? Será?(G1 - Amelia Gonzalez)
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