Por Stella Rios
Os resultados da Prova ABC - aplicada em parceria pelo Ministério da Educação (MEC) e o movimento Todos pela Educação - mostram que o País ainda está longe de atingir a meta de alfabetizar plenamente todas as crianças no máximo até os 8 anos de idade. Os dados da pesquisa, divulgados nesta terça-feira, mostram que metade dos estudantes nesta idade ainda apresenta dificuldades em leitura. A situação é ainda pior quando analisado o desempenho em matemática e português: 63% e 65% dos estudantes, respectivamente, não possuem conhecimento adequado.
A segunda edição da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC) foi aplicada no final de 2012 para 54 mil alunos de 1,2 mil escolas públicas e privadas. Metade da amostra é de alunos do 2º ano e a outra metade do 3º ano, ano considerado limite para a alfabetização de acordo com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic).
Quando levados em conta os dados de todos consultados até o 3º ano do ensino fundamental, a pesquisa mostra que 44,5% apresentaram proficiência adequada em leitura, 30,1% em escrita e 33,3% em matemática para este ano.
Segundo Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, o papel mais importante da Prova ABC tem sido contribuir para o debate sobre quais conhecimentos e habilidades são esperados de uma criança alfabetizada. "A visão de plenamente alfabetizada que é apresentada na prova, representada a partir da pontuação 175 na Escala SAEB, vai muito além do aprender a ler, mas que estabelece as condições necessárias para a criança ler para aprender nos anos seguintes", afirma Priscila.
"Primeiro ponto que chama a atenção da avaliação é a desigualdade entre Estados, entre regiões. E é uma desigualdade que depois vai perpetuar em anos seguintes. Então a gente pode dizer que o peso da desigualdade educacional que a gente tem no Brasil, que é muito intensa, ela já é logo no início da escolarização da criança. Logo nos primeiros anos do ensino fundamental, a gente já tem uma disparidade", diz Priscila . Quanto à meta de alfabetização, ela afirma que é difícil, mas que podemos chegar lá. "É possível fazer tudo isso, mas tem que colocar muito esforço nesses primeiros anos para romper esse patamar e colocar (o ensino) em um patamar muito mais elevado."
Escala
A avaliação usou como referência as escalas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O nível de proficiência considerado adequado pela Prova ABC para o 3º ano é o 175, tanto na escala de leitura como de matemática. Em escrita foi utilizada uma escala própria, de 0 a 100, uma vez que o Saeb não avalia esta habilidade e a pontuação considerada adequada na Prova ABC foi de 75 pontos ou mais.
Segundo o Todos pela Educação, ao adotar a pontuação 175, os resultados da prova permitem diferenciar aquele aluno que ainda está aprendendo a ler e a escrever daquele que já lê e escreve de tal forma que pode seguir aprendendo, buscando informação, desenvolvendo sua capacidade de se expressar.
Em leitura, ao atingir os 175 pontos, os alunos, entre outras habilidades, conseguem identificar temas de uma narrativa, localizar informações explícitas, identificar características de personagens em textos como lendas, contos, fábulas e histórias em quadrinhos e perceber relações de causa e efeito contidas nestas narrativas. Em matemática os resultados da prova permitem distinguir aquele aluno que ainda não domina os conceitos básicos da disciplina daquele que já tem condições de compreender as situações numéricas mais corriqueiras e que, na trajetória escolar, pode seguir adiante na aprendizagem dos conceitos mais complexos.
Resultados em leitura
Em leitura, o percentual de alunos que atingiram 175 pontos ou mais no 3º ano foi de 44,5%. Este número varia de acordo com a região, tendo o Norte apresentado o menor percentual, 27,3%, e o Sudeste o maior, 56,5%. Na comparação dos resultados por Estado, as diferenças são ainda maiores: São Paulo (60,1%), Minas Gerais (59,1%) e Distrito Federal (55%) apresentam maior percentual de alunos que atingiram mais de 175 pontos em leitura, ao passo que Alagoas (21,7%), Pará (22,2%) e Amapá (22,8%), apresentam os menores percentuais.
Resultados em matemática
Em matemática, 33,3% de alunos do 3º ano atingiram 175 pontos ou mais na prova, tendo a região Norte novamente apresentando o menor percentual, 16,5%, e a região Sudeste o maior, 47,4%. Entre os Estados, o Amazonas (9,7%) e Maranhão (10%) são os que têm menor percentual de alunos com 175 pontos ou mais e Minas Gerais (49,3%), Santa Catarina (49%) e São Paulo (48,4%) os que apresentam maior percentual neste nível de aprendizado.
"Esses dados apontam, assim como os de leitura, que a desigualdade educacional começa logo nos primeiros anos da educação básica. Precisamos garantir que as áreas mais vulneráveis recebam mais investimento, mais atenção e mais cuidado, para que a Educação possa ajudar efetivamente a quebrar o ciclo de exclusão e pobreza no Brasil, com equidade", observa Priscila.
Resultados em escrita
Todos os alunos que participaram da Prova ABC fizeram também uma redação, que foi avaliada relação a três competências: adequação ao tema e ao gênero; coesão e coerência; e registro (grafia das palavras, adequação às normas gramaticais, segmentação de palavras e pontuação). De uma escala que vai de 0 a 100 pontos, o desempenho esperado dos alunos do 3º ano anos é de pelo menos 75 pontos.
Nessa edição da Prova ABC, o percentual de alunos que atingiu 75 pontos ou mais foi de 30%. Os Estados que mais apresentaram alunos com aprendizado acima dos 75 pontos foram Goiás (42%), Minas Gerais (41,6%) e São Paulo (39,3%) e os Estados com menor percentual acima de 75 pontos foram Pará (11,6%), Maranhão (13%) e Piauí (16%).
Resultados segundo a idade e os hábitos de leitura
De acordo com os resultados da Prova ABC por idade declarada na data do teste, verificou-se que os alunos que estão no 3º ano e com 8 ou 9 anos têm, em média, maior aprendizado tanto em matemática, como em leitura e escrita.
De acordo com o Todos pela Educação, não é possível fazer a comparação entre os resultados da primeira e da segunda edição da Prova ABC, já que foram utilizadas metodologias diferentes. Essa foi a última aplicação da prova, já que será substituída por uma avaliação específica do MEC.
Fonte:Terra
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