Por José Reis
Eu vi um velho comunista chorar, quando
o Brasil fez um gol contra a Itália e ninguém em volta, nos apartamentos, nos
carros que passavam na rua, entre o grupo que vinha com as compras do
supermercado, exceto um bêbado que assistia ao jogo, comemorou, soltou fogos,
gritou a plenos pulmões, parou para ver o replay do lance.
“Chegou a revolução!”, gritava ele.
Óbvio que ninguém no boteco deu a mínima. Um até pedia para que
ele saísse da frente, para continuar assistindo à partida.
Naquele instante eu percebi que, sim, o momento em que vivemos é
grave, mas nenhum bicho de sete cabeças. A disposição com que o Movimento Passe
Livre (MPL) foi para as ruas, disposto a tomar tiro de borracha, respirar gás
lacrimogêneo e parar cassetete no braço foi uma demonstração inequívoca de que
“o copo está cheio e já não dá mais pra engolir”, com a permissão do
Gonzaguinha. O ponto de gravidade desse novo tempo ao qual chegamos, no Brasil,
foi naquele instante. Depois, o que se viu foi a cauda do cometa, recheada de
alienados, ‘coxinhas’, fascistas, integralistas, vândalos e outros seres assim.
Percebi que a luta daqueles meninos foi o que os levou até ao
Palácio do Planalto,à presidenta Dilma Rousseff
anunciar a convocação de um plebiscito. É
essa luta que precisa ser respeitada. A luta de quem sempre esteve de pé
pelas grandes reformas nesse país, a começar pela reforma política, que é a mãe
de todas as demais. Quanto mais avançamos, mais grave fica o embate com a
extrema-direita que, em meio século, nunca havia visto tamanha vontade popular
em transformar a sociedade.
Compreendi então o nó na garganta do velho comuna, que esteve no
discurso do Jango na Central do Brasil, foi perseguido pela ditadura, votou no
Lula, votou na Dilma, e chegou vivo até agora, quando ‘pátria de chuteiras’,
Galvão Bueno, TV Globo e tantas bugigangas e espelhinhos
oferecidos para iludir o povo já não surtem mais o menor efeito.
Fonte: Correio do
Brasil.
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