Por Luciano Ribeiro
Formação inicial desvinculada da prática. Formação em serviço frágil. Longas jornadas de trabalho. Violência. Indisciplina. Turnos excessivos. Muitos alunos. Falta de apoio da gestão. Infraestrutura deficiente. A lista de problemas dos professores brasileiros é longa, mas a questão de fundo é uma só: o país precisa de uma ampla reforma educacional. "Não temos uma politica nacional para a docência", afirma Amábile Mansutti, coordenadora técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em São Paulo.
Países como a Finlândia e a Coréia do Sul têm propostas consolidadas, que contemplam não apenas o salário dos profissionais, mas também planos de carreira bem estruturados, boa formação inicial e em serviço e ambientes de trabalho de qualidade. O resultado dessas medidas pode ser comprovado pela posição dessas nações em rankings como a do Pisa. Já no Brasil, onde não há uma política voltada aos docentes, os resultados continuam ruins, ano após ano. E a ausência de uma politica de Estado traz impactos já na atração e retenção dos profissionais.
Entre os jovens, a docência é vista como uma opção mal remunerada e cheia de problemas. Desvalorizada, ela é opção profissional de apenas 2% dos alunos do Ensino Médio, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas (FCC) sob encomenda da Fundação Victor Civita (FVC). Hoje, o magistério atrai alunos com baixo rendimento acadêmico. "Em geral, eles fazem parte das camadas menos favorecidas da população. São os primeiros da família a chegar ao ensino superior e acreditam que dar aulas é uma opção segura, pois sempre há postos de trabalho", explica Marli André, professora da Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que pesquisa formação há 30 anos.
Outra questão crucial diz respeito à formação que esses jovens recebem ao ingressar no curso superior. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de Pedagogia, de 2008, indica que 14% dos cursos apresentam desempenho insuficiente. Apenas 3% foram considerados excelentes. Além disso, a maioria dos currículos não contempla as questões práticas da sala de aula. A ênfase recai sobre saberes teóricos distantes da realidade, enquanto as metodologias de ensino e as didáticas de cada disciplina são negligenciadas. Segundo o estudo da FFC e da FVC, apenas 28% das matérias se referem à formação profissional específica. Depois da formatura, os problemas não se encerram. Não há planos de carreira que contemplem o desenvolvimento profissional, a fixação do docente em uma escola, a formação em serviço atrelada à oportunidades de estudo e de reflexão sobre a prática.
O resultado dessa conjuntura fica escancarado nas pontuações dos alunos brasileiros em exames como o Saeb e a Prova Brasil.
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