Em uma nova ação orquestrada de setores articulados da
extrema-direita brasileira, a estréia do filme Faroeste
Caboclo, que chegou às telas dos cinemas nesta quinta-feira sob a
direção de René Sampaio, em seu filme de début na carreira, foi bombardeada nas redes
sociais por um vídeo que parodia a música do legionário urbano Renato Russo.
A peça publicitária, com traços de uma produção em estúdio e
evidente esmero na edição, ainda que apócrifo, não chega a ser um hit de público e contava, até o fechamento
desta matéria, com 3,6 mil acessos em 20 dias de exposição, na média de apenas
180 visitas por dia.
“Não podemos negar, nota 10!!… para criatividade, capacidade
artística e até senso de humor! É uma grande pena que o senso crítico e
político seja inversamente proporcional. Realmente, é triste ver pessoas tão
capazes, talentosas, bem nutridas, altamente escolarizadas se deixando ser
manipuladas pelo Grupo 1º de Abril e Rede Globo! Tem que
ler muita Veja e assistir muito Bom(?)
Dia Brasil para
adquirir esse conteúdo!”, afirmou o internauta João Naleto, em um dos pouco
mais de 20 comentários publicados na página do YouTube, na maioria que segue
nessa mesma linha.
Ainda assim, o filho do autor, Giuliano Manfredini, ingressou
com um pedido na Justiça para que a peça publicitária da extrema-direita fosse
retirada do ar, o que deverá ampliar os níveis de acesso ao vídeo e aumentar a
pressão para que mais pessoas o assistam e, dessa forma, pressionem para que
siga veiculado. Assim, poderá servir como argumento para a defesa da liberdade
de expressão no país.
Manfredini alega como motivo para a ação judicial a necessidade
de preservar a memória e a obra artística do pai, como o diário conservador
paulistano Folha de S. Paulo publicou em uma de suas colunasAT. A
intenção, no entanto, segundo consultor jurídico ouvido pelo Correio
do Brasil, que prefere a condição do anonimato, pode seguir em
rumos diametralmente opostos.
– Não creio que uma ação desse tipo siga além da primeira
instância, com ganho de causa para oYouTube,
no sentido de permitir que o vídeo permaneça acessível. Não é preciso ser
ministro do Supremo Tribunal Federal para perceber que cairá no vazio um pedido
desses para impedir a transmissão de uma peça publicitária, evidentemente de
extrema-direita, sim, mas nada além do que uma obra de ficção e opinativa. Um
processo em torno disso tem apenas o poder de divulgar ainda mais o vídeo que
querem tirar do ar – afirmou.
Nos cinemas
Mas o filme de verdade, sobre a canção escrita por Renato Russo
na qual a saga pessoal de João de Santo Cristo (vivido por Fabrício Boliveira)
serve como pano de fundo para a paródia contra o nordestino Luiz Inácio Lula da
Silva, no canal de vídeos da internet, segue em uma linha mais inteligente e
sensível à obra do autor. Absorve elementos importantes da composição para
deixar de lado o faroeste calango e focar em uma história de amor.
O roteiro percorre os caminhos conhecidos por todos aqueles que,
na década de 80, ouviram a música sobre a história do João que decide reiniciar
sua vida na cidade de Brasília. Entre oportunidades que aparecem à sua frente
com a ajuda do primo bastardo Pablo (César Troncoso), seu destino cruza o da
jovem Maria Lúcia (Ísis Valverde, em seu primeiro longa metragem), por quem se
apaixona e que será a responsável pelas reviravoltas a partir de então.
A decisão do diretor foi trazer a moça o quanto antes para a
trama, e aumentar sensivelmente a presença dela na fita. Os dramas sociais que
João de Santo Cristo vive, porém, distanciam o casal e as cenas amorosas acabam
em segundo plano por diversas vezes. Até mesmo as complicações pessoais de
Maria Lúcia parecem pouco trabalhadas no roteiro.
A atuação de Felipe Abib no papel do traficante Jeremias, por
sua afetação, ganha destaque no filme, com o seu desejo desenfreado por quilos
de cocaína. René Sampaio, em recente entrevista, disse que seu desejo nunca foi
“criar um videoclipe para a canção”, o que abre uma nova perspectiva.
Fonte: Correio do Brasil.
