Por Luciano Ribeiro
1. MEDO
Se você não comprar,
seu mundo vai acabar. Usar medo e punição para vender é uma arma poderosa, que
se enraíza em nossos instintos de sobrevivência e controle do ambiente. Ninguém
quer passar por dificuldades por causa de uma decisão errada na hora de gastar.
Tocar o terror lembra você disso. E a razão está em um mecanismo do seu cérebro
- os chamados "marcadores somáticos", descritos pela primeira vez
pelo neurocientista português António Damásio. Esses marcadores são atalhos que
nos ajudam a fazer escolhas com base naquilo que já vivemos ou sabemos,
tornando automáticas nossas ações do dia a dia. Por exemplo, não colocamos a
mão no fogo porque o cérebro aprendeu que isso provoca dor. O marcador para
"fogo" é associado ao marcador "dor", e isso nos livra de
ter que raciocinar toda vez que chegamos próximo a uma fogueira. A estratégia
do medo usa esse mecanismo, segundo Martin Lindstrom, autor de A Lógica do
Consumo.
2. RELIGIÃO
Faça suas orações, pois
você está prestes a gastar. Para conquistar consumidores fiéis, algumas
campanhas publicitárias atribuem a marcas elementos característicos de uma
religião: pertencimento a um grupo, missão definida, histórias e fábulas
envolventes, inimigo definido, líder carismático, pregação, mistério, símbolos
e rituais. A ideia é simples: o que importa na hora de comprar não são as
características do produto, mas a fé na marca e a esperança de ter uma
experiência transcendental ao entrar para seu rebanho de consumidores. E a
coisa funciona mesmo. Uma pesquisa realizada por cientistas das Universidades
de Montreal, Canadá, e Warwick, Inglaterra, com 2 mil pessoas mostrou que
marcas fortes desencadeiam na cabeça dos consumidores a mesma atividade
cerebral que a reza engatilha em freiras carmelitas.
3. PRESSÃO DO GRUPO
Você pode não gostar de
um produto, mas basta notar que as pessoas à sua volta acham o contrário para
você pensar duas vezes. Somos muito influenciáveis, e mostrar que várias
pessoas já aprovam algo é uma maneira de vender sem necessariamente falar do
que está à venda, segundo David H. Schaefer, professor de administração e
marketing no Sacramento College. Uma das explicações é que certas áreas do
nosso cérebro ativadas quando nos sentimos bonitos ou temos dor também são ativadas
ao observarmos alguém na mesma situação.
4. HUMOR
A publicidade
brasileira é craque em fazer anúncios com humor ou coisas absurdas. A intenção
é criar uma boa lembrança de seus produtos. Você se lembra da piada, dá uma
risada e a associa, ainda que inconscientemente, à marca. Não que você sairá
comprando porque achou uma sacada engraçada. Mas a decisão de compra é
influenciada por fatores irracionais como essa lembrança. Martin Lindstrom
explica em A Lógica do Consumo que todo dia novos marcadores são acrescentados
ao nosso cérebro e as empresas estão na disputa para entrar nesse arquivo de
atalhos mentais. A estratégia, então, é criar uma situação memorável que será
associada ao "marcador" do produto. O único cuidado é para não cair
em campanhas em que a piada é memorável, mas a marca, não.
5. DESVIO DA ATENÇÃO
Quem anuncia quer
atenção, certo? Nem sempre. Uma técnica importante para quem quer vender é
desviar a atenção do produto. Isso acontece porque alguns deles têm algo de
desagradável ou inconveniente. Em As Mentiras na Propaganda e na Publicidade,
Guy Durandin, professor de psicologia social da Universidade Paris 5, diz que,
no final dos anos 1970, as companhias aéreas descobriram, por meio de estudos
psicológicos, que seus passageiros tinham sentimentos angustiantes de separação
e perigo. Elas passaram, então, a focar em outros aspectos não relacionados ao
voo, como o conforto da classe executiva e a ausência de escalas. Isso pode
acontecer com qualquer produto. A ideia é diluir coisas que possam estimular
sentimentos negativos.
6. REFLEXO
Se você comprar, vai se
sentir como as pessoas da propaganda. O mecanismo usado pelos anúncios com
celebridades é o dos neurônios-espelho - aqueles que fazem refletir na gente
aquilo que outros experimentam. Aqui, pouco importa o que o produto tem a
oferecer em termos práticos, mas sim a capacidade do anúncio de reproduzir
sentimentos. Para a publicidade, portanto, a importância de quem aparece é
grande. Os garotos-propaganda têm que ser modelos não só de beleza, mas de
sucesso, talento e ficha-limpa. Ídolos por definição.
Fonte:Super Interessante
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