Surfando Com a Notícia
Por Luciano Ribeiro
"Uma geração sem livros, nem
leituras". Assim o professor Geraldo Rodrigues, com sua experiência de
antigo educador, definiu a juventude brasileira atual. O isolamento da mocidade
estudiosa, que raramente lê, desde o livro ao jornal, tem sido descartado por
outros educadores, em, tom de advertência. Todos veem a necessidade de criar-se
na escola o hábito de leitura, como forma de acentuar o interesse comunitário e
desenvolver o espírito crítico.
Pesquisas já demonstraram que o
universo vocabular do nosso estudante, mesmo em nível universitário, é pobre.
Reduz-se a algumas centenas de palavras. Tão fortes parecem ser os apelos do
mundo, em suas mensagens audiovisuais, que o jovem absorve informações
passivamente, de modo vago e incompleto. Na escola e fora da escola mostram-lhe
sobre o que pensar, mas não o estimulam a pensar. Acossado por uma gigantesca
massa de informações, e incapaz de discernir o que é legítimo, o jovem tende,
em geral, á indiferença, ao alheamento.
A realidade brasileira lhe escapa, os
acontecimentos do mundo não o instigam a um esforço mínimo de interpretação.
Ele será um homem moderno na medida em que repete por mímica os conceitos em
moda. Deixa de ser moderno, porém, no sentido do homem bem informado, com a
capacidade de se exprimir bem e de formular ideias. Na sua carência de
expressão e percepção, o jovem transforma-se em mero repetidor do que mal ouve
e do que mal vê de relance.
Vários serão os motivos que concorrem
para isto, mas é certo que a raiz dos males está na incapacidade da escola em
ensinar o estudante a pensar. Vê-se que as apostilas ameaçam substituir o
livro. Em lugar do compêndio surge a cultura condensada, digestiva e quase
sempre deformada. O estudante habitua-se a ler apenas o que lhe parece
essencial. Não recorre ao livro como fonte de pesquisa, de investigação. Não
complementa no livro a exposição feita na sala de aula. Deixa, em consequência,
de informar-se extensivamente. Limitado nos seus elementos de aferição crítica,
seu universo há de ser pequeno, e por aí medir-se-á fatalmente sua participação
na comunidade.
A tecnologia posta a serviço do ensino
introduz por sua vez, o risco de limitar o livro e o professor, substituindo-os
por processos audiovisuais. Desde a
escola de Ensino Fundamental sente-se que não há por parte de mestres e
diretores o empenho em gerar no aluno o hábito de leitura. São poucos os
deveres que incluem leituras de livros, mesmo de livros especialmente resumidos
com tais objetivos didáticos.
As provas baseiam-se nos testes de
múltipla escolha. Não há mais lugar para a dissertação que ensina a escrever,
que apura o vocabulário, disciplina e amplia os meios de expressão do
estudante. Não admira, pois. que estas condições, somadas a formas de vida
familiares e comunitárias pouco propícias à intimidade e à reflexão, façam com
que o jovem dos nosso dias não leia sequer jornais e revistas, tornando-se meio
cego e meio surdo.( prodtexto)
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