Surfando Com a Notícia
A superproteção e o excesso de controle pelos adultos aparecem como principais causas da vivência do tédio e apatia na infância. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Psicologia (IP) da USP mostra que a presença constante de adultos controlando as ações das crianças contribuem para a falta de autonomia e espontaneidade delas.
O projeto buscou entender quais seriam as possíveis correlações entre o consumo e a vivência do tédio infantil. Para tanto, verificou-se de que maneira se compõe a rotina extraescolar de crianças, apurando o que ela faz fora da escola, o tempo que brinca livremente, o tipo de acesso a eletrônicos e a frequência com que faz atividades extracurriculares.
A psicóloga destaca três grandes aspectos comuns nas rotinas de todas as oito crianças. São eles: prática de atividades extracurriculares, presença constante de um adulto (mãe, pai ou babá) no período em que não estão na escola e acesso a equipamentos eletrônicos, como televisão, videogame, iPad e computador.
No segundo ponto da pesquisa, Clarice ressalta que, por estar a maior parte do tempo institucionalizada (escola ou cursos), com um adulto ensinando a fazer algo, a criança acaba por esperar que alguém sempre lhe diga o que deve fazer. “Nesse cenário, falta-lhe iniciativa. Os adultos estão cada vez mais controladores e superprotetores. Nesse aspecto vemos claramente o tédio, pois quando pode ser livre ou escolher livremente, faltam à criança a capacidade e a vontade de agir espontaneamente”.
Controle de ações
A psicóloga aponta algumas mudanças de ponto de vista que a pesquisa pode trazer. “A princípio, acreditava que a vivência do tédio em crianças poderia estar diretamente relacionada ao consumo excessivo de bens, porém pude perceber que é possível se relacionar de maneira saudável e adequada com aquilo que se tem”. Ela afirma que o que realmente pode ser prejudicial para uma criança é ter sempre alguém controlando suas ações. “Superproteções excessivas tiram da criança as possibilidades de explorar novos caminhos e se motivar para tal”, afirma.
Clarice ressalta ainda que estamos diante de um fenômeno ainda pouco explorado entre os estudiosos da infância e que pode estar se tornando cada vez mais comum entre as crianças da geração atual. “Faz-se necessário alertar pais e profissionais sobre as possíveis causas e implicações do tédio infantil e orientá-los na formação de crianças mais felizes, criativas e espontâneas”, recomenda.
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